Com várias formas de utilização, frutas também possuem substâncias fitoterápicas que ajudam na cura de doenças
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, estendendo-se por uma área de aproximadamente dois bilhões de Km², abrangendo oito estados do Brasil Central. O Clima é caracterizado como tropical estacional, podendo ser distinguido como um período chuvoso e outro seco. As árvores com caules retorcidos e raízes longas, permitem a absorção da água disponível no solo. Existem no bioma quase 10.000 espécies de vegetais, dentre elas as fruteiras nativas. São algumas das frutas do Cerrado: o pequi, a mangaba, o baru, a cagaita, o araticum, a gabiroba, o jatobá, o jenipapo, o cajuzinho-do-cerrado, a macaúba, a pitomba, o sapoti, o umbu e a mamacadela. Essas frutas, que são desconhecidas pela maioria da população, eram encontradas com mais facilidade apenas nos campos do Cerrado. Mas agora, também são achadas na cidade. Seja na forma bruta ou como polpas e outros derivados. Segundo levantamento feito pela Central de Abastecimento de Uberlândia (CEASA), só no mês de Agosto foram comercializados R$207.000,00 em frutos do Cerrado.
As frutas além de exóticas, também possuem propriedades que, quando ingeridas, podem ser saudáveis para o organismo humano. De acordo com o Tecnólogo em alimentos e especialista em tecnologia e qualidade de alimentos vegetais, Éder Júnior de Jesus, que desenvolve em parceria com outros colegas um projeto de mestrado na Universidade Federal de Lavras sobre as frutas são várias as substâncias existentes que podem ajudar no combate às doenças. “ Apesar de serem pouco estudadas, a mamacadela, o pequi, a gabiroba, o marolo e o jeribá têm alta quantidade de fibra solúvel alimentar, que ajudam o intestino a fluir melhor além de sais minerais e vitaminas que podem melhorar a fluidez do bolo fecal proporcionando uma melhor digestão. A mamacadela, possui uma seiva que em contato com a pele, pode retardar o avanço da doença do Vitiligo, já o araticum é rico em carotenóides, pigmentos que combatem os radicais livres no organismo, evitando o envelhecimento precoce”, afirma o tecnólogo.
Além do fator medicinal descoberto recentemente, as frutas típicas do Cerrado têm despertado o interesse de pesquisadores e também de indústrias. Suas utilizações são inúmeras. Para o Professor e Engenheiro agrícola, Pedro Henrique Ferreira, elas possuem um potencial grande e desconhecido pela maioria da população. “ Através de muitos estudos feitos com a polpa do murici, descobrimos que há uma propridade que inibe o crescimento de bactérias como os “cloriformes”. Esse resultado significa que futuramente a fruta poderá ser usada como um conservante natural, susbstituindo os produtos químicos. Também estão sendo feitos alguns experimentos com mix de frutas do Cerrado, associando as várias substâncias e o sabor a fim de descobrir novos remédios fitoterápicos. Com isso, achamos na mamacadela uma grande quantidade de licotemo, substância que auxilia no combate ao câncer de próstata”, completa o professor.
Com o desmatamento e as queimadas, essas frutas podem estar ameaçadas e conseqüentemente os benefícios oferecidos por elas. O Instituto Federal em parceria com a Usina de Capim Branco desenvolve um projeto que pode evitar que as frutas se tornem extintas através da domestificação e reprodução das frutas em viveiro. Segundo a Técnica Agrícola, Alessandra Gomes Pena, o projeto começou em 2005 e ao ano são produzidas 120.000 mudas de espécies frutíferas. “Aqui temos sementes como a do Jatobá, Jenipapo, Baru, marmelada de cachorro,mutambo e ingá. As sementes são levadas par ao campo e durante o processo é feita uma seqüência de atividades para garantir que elas sejam plantadas da maneira correta e se desenvolvam chegando a ser uma planta adulta. Com a reprodução dessas plantas típicas, podemos garantir o reflorestamento das regiões “, ressalta a técnica.
Através de iniciativas como esta, as espécies do Cerrado podem ser produzidas em grande escala, facilitando meios para a comercialização e garantindo também a sobrevivência das espécies.
A “bebida dos deuses” ganha ingrediente do Cerrado
O vinho é tradicionalmente conhecido por ter como ingrediente principal a uva. Mas agora isso pode mudar, pois já estão sendo feitas experiências com outras frutas. No IFTM, o Professor de Bioquímica e Microbiologia, Edson Fragiorge já conseguiu produzir vinho através de frutas como: caqui, tamarindo e pitanga vermelha. “ O nosso objetivo é produzir vinho com mais frutas do Cerrado. Estamos aguardando o período da colheita. Existe uma diferença no sabor, mas através desses experimentos podemos oferecer caminhos para a aplicação dos frutos e incentivar a produção, gerando renda para pequenos produtores”, afirma.